segunda-feira, 8 de abril de 2013

Escola no Rio é pode ser demolida para a construção de estacionamento para a Copa do Mundo.


Esse é o nosso Brasil. Quanto eu achava que nós estávamos com merda até os pescoços, e que ela não tinha como subir mais, ela nos surpreende e ultrapassa 7 palmos das nossas cabeças!

O governador Sérgio Cabral do estado do Rio de Janeiro (sim, aquele  que expulsou os índios outro dia por causa da copa) não se cansa de extrapolar os seus absurdos. Como se já não bastasse recente o episódio das expulsão dos os índios da Aldeia Maracanã, agora o filho da puta quer DEMOLIR UMA ESCOLA PARA FAZER ESTACIONAMENTO PARA A COPA DO MUNDO! É isso mesmo que vocês leram:

NO BRASIL SE DESTRÓI ESCOLAS PARA A SE CONSTRUIR ESTÁDIOS DE FUTEBOL!

E isso não é porque aqui se investe mais em futebol do que educação não, infelizmente isso acontece LITERALMENTE!


Eu não tenho nem palavras pra expressar a revolta, o desgosto e o nojo que eu sinto de ver essas merdas acontecendo aqui.


quinta-feira, 4 de abril de 2013

O Vulcão do Capital




Após eu assistir a esse vídeo que demonstra a insustentabilidade do Capital, me lembrei que eu costumo fazer a seguinte analogia sobre o capitalismo:

Imaginemos um vulcão em erupção em determinada região. Sua lava é utilizado como fonte de energia das cidades próximas e o modo de vida dos seus habitantes depende das suas erupçpões. Entretanto, para que a vida dessas pessoas siga seu curso habitual, essas erupções tem que ser cada vez maiores.

Regularmente, o vulcão acaba expelindo mais lava do que as pessoas conseguem converter em energia e isso acaba destruindo uma parte dessa localidade. Problema que é "resolvido" através da construção de barreira e canais para desviar a lava para outro lugar. Mas acontece que o vulcão, expele cada vez mais lava as pessoas começam perder o controle desses vazamentos, pois a quantidade de lava  expelida é cada vez maior e nunca é controlada totalmente.

As pessoas sempre buscam a solução desse problema tentando criar novos desvios para a lava, direcionando ela para lugares que os estragos causados por ela não seja tão grande. Mas ninguém cogita a possibilidade de tentar acabar com erupção, pois, para eles, é inconcebível uma sociedade que não utiliza a lava do vulcão como meio de energia.

Inevitavelmente o vulcão acabará destruindo tudo. A menos que a erupção seja contida e que essas pessoas que vivem próximas a ele busquem outra fonte de energia, esse completa destruição será uma realidade cada vez mais próxima.

domingo, 11 de novembro de 2012

Sistema de saúde pública de Vitória da Conquista - PARTE III (FINAL)


Para Quem ainda não veja veja aqui a PARTE I e a PARTE II

Nos outros dois dias que se seguiram não pude acompanhar o meu sogro, mas minha noiva e a mãe dela o acompanharam e me disseram o que aconteceu. 

Durante a noite do dia 05/11, minha sogra conseguiu conversar com o clínico geral que rebateu a bola novamente para outro neurologista. Mas acontece que o HGVC só possui neurocirurgiões e parece que os neurocirurgiões não estavam a fim de tratar um AVC isquêmico.


Se nos dias anteriores sofremos com falta de energia, de maca, de lençol, etc. durante a noite do dia 05/11 teríamos uma surpresa ainda maior. Não pela falta de algumas coisa, mas sim pela abundância de água nos corredores do hospital. Choveu muito durante a noite e os corredores ficaram alagados! As enfermeiras se recusavam a ir aos corredores que estavam molhados, pois não queriam entrar em contato com a água contaminada. E os pacientes e acompanhantes estavam imunes àquela água? E quanto aos pacientes que precisavam de medicação? Algumas pessoas diziam que aquele problema não era novo, há vários anos os corredores ficam inundados quando chove. Abaixo segue um vídeo mostrando a inundação:



Durante toda a madrugada os corredores ficaram alagados, os pacientes (inclusive os meu sogro) foram levados para outros corredores que não foram atingidos pela água.
No outro corredor, minha sogra dormia sentada numa cadeira de plástico ao lado da maca, quando uma enfermeira a acordou e deu uma medicação para ela tomar. Era um anti-hipertensivo, só que quem deveria tomar a medicação não era a acompanhante e sim o paciente! E para completar, a minha sogra tem hipotensão (pressão baixa)! A irresponsabilidade e a falta de preparo dos funcionários ultrapassam o absurdo! Não me admiram os recentes casos de uma enfermeira que deu ácido para uma criança beber e de outra enfermeira que injetou leita na veia de um bebê.

No dia seguinte (06/11) meu sogro aguardou a o dia inteiro no corredor o neurologista aparece no hospital. O mesmo só chegou ao HGVC as 23hrs! E adivinhem o que ele fez? Rebateu a bola para um clínico geral! O jogo de ping pong com a saúde dos pacientes continuou!

No dia posterior (07/11), fui ao hospital pela manhã. Meu sogro ainda aguardava a avaliação do clínico geral. Quando o clínico apareceu, mostrei o prontuário do meu sogro com todos os exames que ele havia feito no hospital e ele resolveu dar alta para o paciente. Encaminhou o meu sogro para um neurologista e uma fisioterapeuta e receitou alguns medicamentos para controlar a pressão arterial (medicamentos que não estão fazendo efeito).

Se o HGVC é ineficiente em atender bem os pacientes, em matéria de burocracia ele nota 10. Como eu disse em outro post, o objetivo de termos levado o meu sogro para lá foi para que ele fizesse todos os exames necessários. Com muita luta conseguimos fazer boa parte, mas, ao receber alta, o hospital não liberou os exames de imediato. Era necessário aguardar de 3 a 8 dias para que pudéssemos ter os exames em mãos. Depois de toda essa epopeia voltamos para casa.

Depois do que foi exposto nestes 3 posts podemos destacar algumas coisas em relação ao sistema de saúde pública de Vitória da Conquista:

·         Superlotação nos principais hospitais que atendem pelo SUS (São Vicente, UNIMEC e HGVC) e recusa desses mesmos hospitais em receber mais pacientes.
·         Pacientes são internados nos corredores onde ficam expostos a acidentes e infecções.
·         Funcionários despreparados, indiferentes e mal educados com o público.
·         Os hospitais não estão imunes a qualquer queda de energia elétrica, o que coloca em risco a vida de muitos pacientes, principalmente os que dependem de aparelhos para sobreviver.
·         Falta de instrumentos básicos para o atendimento dos pacientes (tensiômetro).
·         Dificuldades na comunicação entre os setores do hospital
·         Médicos que não querem assumir a responsabilidade no tratamento dos pacientes.
·         Deficiência gravíssima na estrutura física dos hospitais, deixando os mesmos expostos a inundações e colocando em risco a saúde e a vida dos pacientes.

Para finalizar, faço uma homenagem ao sistema de saúde pública de Vitória da Conquista com uma música da minha antiga banda In Mundos:

 


SAÚDE ZERO


Toda essa fila, doentes e sangue
Todos os enfermos gritando com dor
Cheiro de éter, soro e morfina
Pague sua consulta com Bolsa Família


Saúde zero (aonde iremos parar?)
Saúde zero (quem poderá nos salvar?)


Dengue, acidentes e mutilação
Descaso do governo com a população
Hepatite, AIDS, câncer e ebola
Pague sua consulta com Bolsa Esmola


Saúde zero (aonde iremos parar?)

Saúde zero (quem poderá nos salvar?)

Saúde zero (e mau atendimento)
Saúde zero (só dor e sofrimento)


Sem plano de saúde não posso te atender
Deite-se no chão, pois não tem maca pra você
Nós não temos vagas na enfermaria
Você irá morrer se não pagar a cirurgia


Saúde zero (aonde iremos parar?)

Saúde zero (quem poderá nos salvar?)

Saúde zero (e mau atendimento)
Saúde zero (só dor e sofrimento)

 



sábado, 10 de novembro de 2012

Sistema de saúde pública de Vitória da Conquista - PARTE II


Para quem não leu a primeira parte é só clicar aqui.


No dia seguinte (05/11), decidimos insistir para que o meu sogro recebesse atendimento. Minha mãe ligou para o SAMU 192 que a princípio relutou em despachar uma ambulância para minha casa. A ambulância chegou, fomos muito bem atendidos pelos paramédicos. Demos entrada no HGVC pela manhã. Por termos chegado de ambulância, o atendimento foi um pouco mais rápido do que na noite anterior.
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Enquanto eu fazia a ficha do paciente, os paramédicos encaminhavam o meu sogro para receber o atendimento. Após eu preencher a ficha, entrei na sala do médico onde o meu sogro estava sendo atendido. O médico (que falava alto e gritava exibindo uma bela falta de educação) aferiu a pressão arterial do meu sogro e pediu para ele movimentar os membros que ele havia perdido a sensibilidade. Após os exames, o médico solicitou uma tomografia e o encaminhou para ser medicado. Pensei que o presente dia seria diferente do anterior, mas eu estava enganado, meu sogro recebeu a medicação sentado no mesmo banco de madeira onde o soro ficava preso na parede com esparadrapo.
Com o pedido da tomografia em mãos, circulei por entre as macas nos corredores em busca de informações sobre como realizar o exame no HGVC. Procurei a ala masculina da enfermaria (o nome “ala masculina” era mera formalidade, pois homens e mulheres estavam amontoados nos mesmos corredores) para marcar o horário do exame. Com muita falta de educação eu fui recebido com um grito de uma das enfermeiras “A TOMOGRAFIA TÁ QUEBRADA!”. Perguntei qual seria o procedimento, pois o médico havia solicitado o exame e o paciente precisava do diagnóstico para iniciar o tratamento. Com rispidez a enfermeira disse para eu procurar a coordenação do hospital para ver o que poderia ser feito.

O nosso objetivo ao levar o meu sogro novamente ao HGVC era conseguir que ele fosse internado, pois dessa maneira seria “mais fácil” realizar os exames e o tratamento. Pensando nisso, procurei informações sobre como interna-lo. Fui até o setor de internamento onde pela primeira vez fui bem recebido naquele hospital. A senhora que me recebeu me deu várias informações sobre quem procurar na coordenação para conseguir a tomografia. Perguntei a ela como conseguir uma maca para o meu sogro. Ele me disse para procurar o maqueiro que ele providenciaria. Em poucos instantes o maqueiro entrou na sala repetindo o bordão do hospital “A tomografia tá quebrada!”. E depois complementou “Por que o hospital o aceitou? Tinha que ter ido era pro São Vicente, aqui não podemos fazer nada por ele!”. Em resposta eu disse que já havíamos passador por 3 hospitais, inclusive o São Vicente e em nenhum deles ele recebeu atendimento.

Após “internar” o meu sogro (internar formalmente, pois ele continuava sentado no banco de madeira) fui até a coordenação para tentar conseguir a tomografia dele. Procurei a pessoa indicada pela senhora do internamento. A moça me recebeu bem, disse que realmente a tomografia do HGVC estava quebrada, mas que ela iria conversar com a direção do hospital para tentar encaminha-lo para o SAMUR e que não pagaríamos pelo exame.

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Voltei para emergência e passei as informações para o meu sogro e minha noiva que fazia companhia para ele. Depois disso, fui juntamente com a minha noiva procurar uma maca. Depois de muita insistência e muita luta eu conseguimos uma maca. Perguntei ao maqueiro se ele havia desinfetado a maca. Ele disse que sim, mas eu não confiei. Pedi um lençol para ele e ele disse que não tinha. Como assim um hospital não tem um lençol? Ele falou que ia tentar conseguir e não voltou mais. Fiquei no corredor com a minha noiva segurando a maca (se deixasse solta provavelmente alguém iria pegar) esperando esse lençol aparecer. Enquanto estávamos no corredor, várias pessoas transitavam de um lado para e muitas pessoas tocavam na maca, pois o corredor era apertado. O maqueiro reapareceu sem o lençol e eu pedir para que ele higienizasse a maca. Ele disse que não tinha álcool. Isso mesmo, um hospital responsável por atender várias cidades da região não tinha álcool! Cansado de esperar pela má vontade dos outros, pedi um pouco de álcool numa sala onde ficavam os medicamentos. Uma mulher me deu num copo descartável, juntamente com uns guardanapos descartáveis. Pedi luvas a ela, mas ele disse que não tinha. Minha noiva foi até a enfermaria e conseguiu um par. Então nós higienizamos a maca.

Após limparmos a maca, tinhas que conseguir um lençol. Enquanto eu tomava conta da maca, minha noiva rodou o hospital inteiro e finalmente voltou com um lençol. Isso só reforça que os funcionários não tem um pingo de vontade de atender bem aos pacientes que estão lá. Negavam-se a trazer coisas básicas dizendo que essas coisas estavam em falta. Depois de toda essa luta, finalmente o meu sogro iria sair do banco de madeira que ele estava sentado ha horas. Durante essas horas que se passarem o soro no braço dele acabou. Falamos com várias enfermeiras, mas NINGUÉM se prontificou a retirar o soro do braço dele. Simplesmente jogavam a responsabilidade para outras pessoas. 

“Acomodamos” o meu sogro em um corredor mais amplo e que tinha um pouco de ventilação. Várias vezes eu retornei a coordenação do hospital para perguntar sobre a tomografia e a moça que havia conversado comigo anteriormente me disse que a diretoria estava em reunião e que assim que a reunião terminasse, ela me daria uma resposta.

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Após algumas horas retornei a coordenação e moça me disse que haviam consertado a tomografia e que eu só precisava do pedido do exame. Fui correndo para a enfermaria, pois lá é que estava o prontuário do meu sogro. Encontrei-me com a moça que havia me atendido mal um pouco mais cedo e ela não se intimidou em demonstrar como era completamente despreparada para atender ao público. Com um show de arrogância ela me disse que não haviam consertado nada e que eu deveria esperar! Em seguida pegou uma pilha de papeis e me mostrou dizendo: “Tá vendo isso aqui? Isso tudo é tomografia que a gente tem que fazer! A máquina tá quebrada! Se consertarem eu te chamo!”. Retornei a coordenação e a moça me disse que só estavam fazendo alguns testes no tomógrafo e que em breve estaria tudo pronto.

Enquanto isso eu aguardei. Retornei algumas vezes na enfermaria e insisti para que as enfermeiras fossem aferir a pressão do meu sogro e que fossem verificar o soro que há horas já estava vazio e tudo que eu ouvia era “Daqui a pouco eu vou lá, agora estou ocupada”, só que ninguém ia. Numa dessas idas a enfermaria, apareceu um enfermeiro dizendo “O tomógrafo foi consertado!”. Mas a outra enfermeira ignorante que estava na enfermaria relutou com todas as forças para não passar a informação adiante. Com ódio no olhar ela dizia “Não foi consertado não! Eu liguei pra lá agora e disseram que não estava pronto!” e o colega dela dizendo que já estava tudo ok. Pedi o pedido da tomografia do meu sogro e ela não quis me dar. Retornei a coordenação e falei que a enfermeira estava se negado a me dar o pedido da tomografia alegando que o tomógrafo estava quebrado, mas a própria coordenação havia me dito antes que haviam consertado e o colega dela dizia o mesmo. Foi preciso uma pessoa sair de lá da coordenação e me acompanhar na enfermaria para que enfermeira me desse o pedido da tomografia.


Vencida mais uma batalha e com todos os papeis em mãos, levei a maca do meu sogro para a porta da tomografia, mas os técnicos haviam saído para o almoço. E por falar em almoço, eu tive que brigar com a moça que passava com o carrinho de comida no corredor para que ela desse a comida para o meu sogro.  Aguardamos por quase 1hr até que o técnico apareceu, entrei junto com o meu sogro e finalmente ele fez a tomografia. Peguei o resultado e fui atrás do médico.

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No meio do caminho uma pessoa observou que a maca do meu sogro estava ponto de quebrar. E aí começou outra luta para conseguir trocar a maca. Quando eu procurei o maqueiro ele me disse com rispidez: “Eu já não arrumei uma maca pra você? É o que que você quer?” Respondi que a maca estava ponto de quebrar e que o meu sogro estava sentado num cadeira no corredor e com a cabeça escorada na maca. Ele me respondeu: “Meu filho, maca aqui nesse hospital é que nem ouro! Não tem como eu arrumar outra pra você não. Só se alguém tiver alta.” Indignado com a situação eu retornei ao corredor e fiquei de olho pra ver alguém recebia alta para eu poder trocar a maca. E durante o longo tempo de espera, o meu sogro ficou sentado no corredor com o soro vazio, sem saber se a pressão dele tinha diminuído, com o um vidro de soro vazio seguro em uma mão e uma agulha espetada no outro braço.

Enquanto não aparecia uma maca eu fui atrás de médico para ver o resultado da tomografia. A partir daí começou um jogo de ping pong entre os médicos onde o meu sogro era bola. Com muito trabalho, mostrei a tomografia para o clínico geral de plantão e ele me encaminhou pra o neurologista. O neurologista demorou horas para aparecer no hospital (felizmente durante esse longo tempo de espera eu consegui outra maca). O Neurologista olhou a tomografia e disse que o meu sogro teve um AVC isquêmico e que não era a área dele, pois ele era neurocirurgião. Dito isso ele o encaminhou novamente para o clico geral. Fiquei pensando comigo mesmo “Como é que um cara que é capaz de abrir um crânio de uma pessoa viva, retirar um tumor do meio do cérebro, fechar o crânio e fazer com que a pessoa restaure a saúde, não é capaz de indicar um tratamento para um AVC isquêmico?”. Como eu não sou da área de saúde, fui atrás do clínico novamente para saber qual o procedimento deveria ser tomado. Procurei-o durante muito tempo, mas não o encontrei. O tempo passou e a minha sogra chegou ao hospital para passar a noite com o meu sogro. Me despedi deles e fui para casa descansar.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Sistema de saúde pública de Vitória da Conquista - PARTE I


Em matéria de serviço público de saúde Vitória da Conquista é apontada com referência pelo governo do PT que há 16 anos governa a cidade. Mas será que saúde em nossa cidade é tão boa assim? Para por a prova as afirmações do governo não utilizarei dados estatísticos, mas tomarei como base o que presenciei nesta semana. 

No dia 04/11 eu recebi uma ligação da minha noiva dizendo que o meu sogro não estava se sentindo bem. Ele estava com a pressão arterial muito elevada e tinha perdido parte dos movimentos do rosto e do lado esquerdo do seu corpo. Pela descrição dela, provavelmente o meu sogro estava tendo um AVC.  

A família da minha noiva mora em Poções. É frequente as reclamações da população poçoense no que diz respeito ao único hospital da cidade que atende pelo SUS. Por esse motivo, a família dela queria que o meu sogro viesse imediatamente para Conquista, mas devido à necessidade da urgência no atendimento eu recomendei que eles procurassem primeiro o hospital de Poções.
Hospital São Lucas (Poções-BA)
Meu sogro deu entrada na emergência do Hospital São Lucas em Poções na tarde do mesmo dia. Segundo minha noiva o diagnóstico dado pelo médico de plantão foi de hipertensão arterial e paralisia facial. Esses são sintomas de AVC. Os especialistas recomendam que o paciente com suspeita de AVC seja encaminhado com urgência para a tomografia para que assim sejam diagnosticados os danos sofridos no cérebro, e, a partir daí, dar início ao tratamento. A urgência do diagnóstico no início do tratamento é fundamental para evitar as sequelas causadas pelo AVC.  Mas não foi isso que aconteceu com meu sogro. O médico de plantão no Hospital São Lucas não o encaminhou para uma tomografia. Ele apenas deu uma medicação para controlar a hipertensão e deu alta para o paciente!

Após receber alta do Hospital São Lucas sem ser encaminhado para exames mais precisos e sem nenhuma receita médica indicando medicamentos para o controle da hipertensão, o meu sogro veio para Vitória da Conquista.

Hospital Sâo Vicente (Vitória da Conquista - BA)
Ao chegar a Conquista, levamos o meu sogro ao Hospital São Vicente. Este hospital é um dos mais renomados da cidade, mas que passa em frente mal pode imaginar o apartheid que impera em seu interior. Ao entrarmos no hospital, na parte da frente(que é destinada aos paciente com plano de saúde e/ou dinheiro para pagar pelo atendimento) vemos uma bela fachada, vários laboratórios, portas de vidro temperado e estacionamento privado. Mas isso é na parte da frente, pois nos fundos (próximo ao necrotério) temos a porta de acesso ao atendimento do SUS. Lá as coisas são diferentes, toda a beleza que vemos no exterior é substituída por grades enferrujas, chão sujo e vários pacientes deitados em um banco de madeira gemendo de dor e esperando por atendimento. Nos dirigimos ao balcão e pedimos informações e nos disseram que havia nenhum médico de plantão naquele momento. Procuramos outro hospital.

O segundo hospital que procuramos foi o Hospital UNIMEC. A situação lá não estava muito diferente da dos fundos do Hospital São Vicente. Haviam várias pessoas esperando por atendimento. A diferença é que lá tinham um médico de plantão, mas apesar disso  o hospital não possuía os equipamentos necessários para dar atendimento os meu sogro. O que nos fez procurar o terceiro hospital.



Emergência do HGVC
Seguimos para o Hospital Geral de Vitória da Conquista (HGVC), também conhecido como Hospital de Base. Este hospital não é só responsável por atender aos pacientes de Vitória da Conquista, mas pela demanda de várias cidades de região. Chegamos lá no início da noite. Assim como nos outros hospitais, nos deparamos com vários pacientes aguardando para serem atendidos. A recepção estava muito maltratada. Os banheiros estavam imundos, os assentos estavam rasgados e as portas danificadas. 

Como a demanda desse hospital é bem maior dos que a dos outros, os pacientes devem passar por uma triagem para ser avaliada a prioridade no atendimento. Meu sogro passou pela triagem e em seguida ele foi encaminhado para o atendimento com o médico plantonista.
Pacientes internados nos corredores do HGVC
Como só é permitido um acompanhante por paciente, eu tive que aguardar do lado de fora, mas passado alguns minutos eu adentrei na parte da emergência onde os pacientes recebiam atendimento. Estava um caos! Os corredores estavam abarrotados de macas com pacientes gemendo e agonizando. Detalhe é que esses pacientes nas macas estavam internados! Isso mesmo, os pacientes internados ficam nos corredores para receberem tratamento! De certa forma isso não foi uma surpresa muito grande, pois há aproximadamente 1 ano atrás eu fui visitar o meu tio avô que estava internado no mesmo hospital e me deparei com a mesma cena. Mas o que eu não sabia era que esses pacientes estavam internados.

Se os pacientes internados ficam em macas nos corredores, onde ficam os que estão recebendo tratamento no pronto-socorro? Ficam todos sentados lado a lado no mesmo assento de madeira! O soro é fica pendurando num clip de papel que é preso a parede com um pedaço de esparadrapo! Quando um novo paciente chega o restante tem que se apertar no banco. Foi nesse banco que o meu sogro foi atendido.

Meu sogro ficou sentado alguns minutos esperando o soro acabar. Só que ele ficou muito mais tempo com o soro vazio esperando o médico reaparecer para ver qual o procedimento que deveria ser tomado após a medicação. Enquanto ele esperava aconteceu o inesperado, faltou energia no hospital! Como é possível faltar energia num hospital responsável por atender toda região sudoeste do estado? E sempre imaginei que hospitais possuíam geradores de energia para essas adversidades.

O que era ruim ficou pior. Como dar atendimento àquela quantidade de pacientes sem energia elétrica no hospital? Se passaram aproximadamente 2 horas e energia não retornou. Nem a energia, nem o médico, muito menos alguém para dar uma explicação ou um posicionamento sobre a fala de energia.

Durante esse tempo no escuro, eu procurei algumas enfermeiras para que a pressão arterial do meu sogro fosse aferida novamente. A resposta que eu tive foi que era impossível aferir a pressão dele no escuro.

Apesar da escuridão, havia várias pessoas circulando por entre as macas nos corredores segurando lanternas e celulares para iluminar o caminho. Eu disse a enfermeira que eu possuía uma lanterna no meu celular e que eu iluminaria o mostrador do tensiômetro. Em tom de extrema arrogância – tom que eu iria ouvir de muitos durante o tempo em que eu passei naquele hospital – ela me disse que não iria fazer isso e que o hospital possuía apenas um tensiômetro que estava numa sala que não possuía luz. Perguntei como era possível um hospital daquele tamanho e responsável por atender a toda região sudoeste só possuir apenas um tensiômetro. Em seguida perguntei o motivo de tanta arrogância. Recebi uma resposta mais arrogante do que a anterior. Segundo ela,  eu a havia tratado ela ignorância (só porque eu achei absurdo um hospital daquele tamanho só ter um tensiômetro). Um segurança do hospital interveio (em favor dela, é claro) e com uma brutalidade absurda me disse que eu estava causando tumulto no hospital. Tudo que eu queria era que o meu sogro recebesse um atendimento decente.

Após esse incidente o médico reapareceu e deu alta para o meu sogro, com a desculpa de que sem energia elétrica não era possível fazer nada por ele. Além disso, o médico nos disse que deveríamos procurar atendimento num hospital particular. Após vários protestos voltamos para casa.